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Em Memória de JAD: Uma Aula de Advocacia em Tribunal

O Dr. José Albuquerque Dias, conhecido por muitos como JAD, foi muito mais do que um professor de Deontologia na Ordem dos Advogados. Era um mestre que ensinava com sabedoria e humor. Provocador nato, não se limitava a transmitir as normas da profissão; instigava os seus alunos a entenderem o verdadeiro espírito da advocacia: enfrentar com inteligência e coragem qualquer obstáculo, até mesmo a autoridade de um juiz.


Num destes dias, em tribunal, surgiu uma oportunidade inesperada para lhe prestar uma homenagem. A audiência decorria de forma tranquila, até que a juíza, num momento de curiosidade ou ligeira impaciência, decidiu perguntar:

“O que pretende requerer?”

A pergunta trouxe-me imediatamente à memória as aulas de JAD. Lembrei-me, com um sorriso interior, da sua explicação de que o direito de requerer é absoluto. Dizia ele que o juiz nunca deveria limitar ou antecipar o conteúdo do requerimento. E que, se um dia enfrentássemos esta questão em tribunal, havia uma resposta que era tão legítima quanto desconcertante:
“Não sei, quando começar a requerer, logo vejo.”

Conscientemente, em homenagem a JAD, respondi à juíza com as suas palavras. Por um breve instante, o silêncio na sala foi quase palpável. Percebia-se a surpresa. A seguir, um pequeno sorriso formou-se nos rostos de quem reconheceu o peso daquela resposta. Não se tratava apenas de uma réplica espirituosa, mas de um exercício prático do direito de defesa, da independência e da dignidade do advogado.

JAD não nos ensinava apenas a navegar nas águas da advocacia, mas a fazê-lo com ousadia e elegância. Sabia que a advocacia é, acima de tudo, uma arte. E, como toda a arte, exige inteligência, criatividade e, por vezes, irreverência no momento certo.

Aquele instante em tribunal não foi apenas uma recordação de um grande professor, mas uma celebração do seu legado. Obrigado, JAD, por nos mostrar que a advocacia é muito mais do que um conjunto de regras. Por nos ensinar que, na busca pela justiça, o inesperado é muitas vezes o que faz toda a diferença.