Muitos profissionais jurídicos enfrentam a frustração de trabalhar em contexto não tecnológico, seja por falta de domínio técnico, seja, em particular, por restrições orçamentais que impedem investimento em tecnologia adequada à modernização de procedimentos com base em tecnologia.
Se é verdade que o contexto do dia-a-dia é cada vez mais tecnológico e no sector da Justiça também é verdade que os profissionais da justiça ainda usam a tecnologia numa base por vezes muito rudimentar e quotidiana, por assim dizer.
Além da lacuna geracional entre profissionais mais antigos –
adversos a mudanças drásticas e desconfiança numa realidade pouco material – e
profissionais mais jovens – que demandam a tecnologia para tudo e até negam
procedimentos tradicionais, por vezes com raízes em princípios e técnicas
jurídicas mais seguras –, deparamo-nos com orçamentos reduzidos para
investimento em tecnologia e ausência de soluções à medida para o sector legal,
em particular, o nacional.
Perante este dilema, coloca-se a questão: como acompanhar as
exigências de transformação digital e competir ao nível tecnológico num sector
onde a advocacia corporativa tem ao dispor instrumentos e ferramentas para as
quais as pequenas firmas ou advogados em prática individual tendem a sentir-se
menorizados e incapazes?
A resposta passa pela adopção de estratégias de transformação interna e optimização do uso das tecnologias disponíveis e acessíveis e retirar delas o maior rendimento possível.
A par disso há que fazer um caminho de transformação de
mentalidades e demonstração efectiva dos benefícios que a tecnologia traz para
o sector legal, cabendo aqui aos mais novos (ou mais adeptos da realidade
tecnológica) “evangelizar” os mais velhos e, junto destes, demonstrar ganhos de
produtividade, eficiência e até redução de custos (directos e indirectos).
Neste âmbito é fundamental reconhecer as razões para a resistência à tecnologia de modo a avançar numa direção favorável à tecnologia.
Encontramos, desde logo, um elemento comum que é a diferença nas atitudes geracionais em relação à tecnologia. É claro que a atitude de uma pessoa em relação à tecnologia não é uma simples questão de idade e educação. Diferenças geracionais são tendências não absolutas.
Ainda assim, muitos profissionais jurídicos mais jovens mal
conseguem imaginar viver sem tecnologia. Eles cresceram com todos os avanços
digitais que agora damos como garantidos.
Advogados mais velhos, por outro lado, podem ter começado a
trabalhar numa época em que era comum os escritórios viverem sem computadores
ou que, mesmo existindo, eram usados exclusivamente como processadores de texto
(sendo usados como “máquinas de escrever avançadas”).
Essa lacuna geracional em torno da adoção de tecnologia é
esperada.
Aqueles que cresceram cercados por dispositivos e
ferramentas baseados na tecnologia esperam que a adoção da tecnologia seja fácil,
intuitiva e útil.
Ao mesmo tempo, as pessoas que construíram suas habilidades
e estratégias em torno de processos manuais questionam sucessivamente se uma
tecnologia vale o tempo e o esforço necessários para aprender a usá-la bem.
Essa preocupação é amplificada porque muitas ferramentas tecnológicas parecem
passageiras e são rapidamente substituídas por outras.
Mas existem outros factores que também explicam a
resistência tecnológica no campo jurídico.
Com efeito, os advogados tendem a ser avessos ao risco e buscam
o perfeccionismo, unicidade e exclusividade dos conteúdos e documentos que
produzem.
Há também uma forte ênfase na tradição, nos usos e costumes
e na segurança jurídica, o que naturalmente dificulta a adoção de novas
tendências. É um sector predominantemente conservador.
A mudança deve ser promovida e influenciada com respeito pela
diversidade e pelas diversas perspectivas do Direito e da Justiça e,
naturalmente, pelo Tempo em que cada um vive ou viveu. A tecnologia deve ser
procurada e enfatizada com foco nos benefícios e vantagens que traz em respeito
máximo pelas premissas clássicas do Direito – segurança, certeza e eficácia
jurídica.
As tendências avessas à tecnologia no sector jurídico devem
ser contrariadas com respeito aos valores que sustentam a resistência e a
rejeição. Assim, uma adequada maneira de
suceder nesta demanda é enfatizar os benefícios da adoção de tecnologia,
justificando que é realmente mais fácil, mais lucrativo e de menor risco adotar
a tecnologia.
A tecnologia digital moderna proporciona um aumento de
eficiência e produtividade que simplesmente não é possível com soluções
antigas.
Seja a tecnologia relacionada à gestão processual, arquivo digital
ou outro aspecto da prática jurídica, há muitos softwares jurídicos que podem
simplificar várias tarefas administrativas. O escopo final e produzir resultados
com mais qualidade em menos tempo.
Podemos hoje afirmar que no sector da Justiça a adoção
da tecnologia já não é uma opção, ela está intrínseca ao sistema e com ele cohabita.
O arquivo digital nos Tribunais passou a ser uma realidade e
vai crescentemente substituindo o paradigma clássico do arquivo físico dos
processos, o que facilita não só o armazenamento (que não carece de espaço físico
e organização documental complexa e altamente falível), como facilita de uma
forma exponencial a pesquisa, consulta e partilha desse mesmo arquivo – o que pode
ser necessário e útil para uma multiplicidade de situações.
Para além do arquivo digital, a procedimentação ágil por meios de comunicação electrónica – interna, entre partes ou intra-institucional – permitiu reduzir tempo e retirar tarefas de rotina, como é o caso das notificações postais, ofícios e expediente diverso que o sistema processual exige.
No âmbito da Advocacia, os desafios perduram, nomeadamente
pela abissal diferença de recursos entre uma Advocacia Corporativa e a chamada
Advocacia Tradicional, sendo vital procurar caminhos sustentados de utilização
e optimização do uso da tecnologia através de dispositivos e ferramentas de uso
mais comum. Com conhecimento, criatividade e definição estratégica é possível almejar
melhores resultados e dispensar da rotina procedimentos e acções que, doutro
modo, retirariam tempo, potenciam erro e não acarretam ganhos ao nível do
rendimento profissional.